Desde que comecei a usar a internet, aos tenros sete aninhos de idade, quis ter meu próprio blog. Claro que naquela época dinossauresca (1998!) eu nem conhecia a palavra "blog". Diabos, talvez o termo nem existia ainda. Mas o conceito praticamente nasceu com a internet: um espaço digital para chamar de seu, onde você pode fazer publicações de cunho pessoal com o conteúdo que quiser.
Mas como criar meu próprio site? Eu não tinha o conhecimento técnico necessário, e não achava que meus pais poderiam me ajudar — mesmo sendo apenas uma criança ainda era provavelmente a pessoa mais tech-savvy da casa, e a desconfiança que meus pais tinham da internet provavelmente os impediria de me ajudar mesmo que pudessem.
Em minha inocência, tentei executar o que queria usando as ferramentas que conhecia. Um site era apenas texto e imagem, certo? Pois bem, o Microsoft Word me permitia criar documentos com texto e imagem! Era só escrever o que eu queria no Word e depois achar um jeito de publicar... Certo?
Depois de me frustrar com o Word, não entendendo porque eu não conseguia colocar meus "site" na internet, descobri a existência do Dreamweaver (na época ainda da Macromedia, não Adobe). Então era por isso que eu não conseguia publicar meus sites: eu estava usando o "Word" errado! Uma vez usando o "Word para sites" poderia enfim ter meu espacinho na net... Certo?
Obviamente, frustrei-me de novo criando "sites" que ninguém tinha acesso. Demorou algum tempo para eu entender como funcionava a hospedagem de um site. E, quando já tinha adquirido uma noção melhor de como funcionava a internet, ferramentas e serviços para criação de sites — e especificamente "blogs", que já haviam se tornado uma palavra corriqueira — já estavam muito mais acessíveis. Em diversas etapas da minha vida usei algumas dessas ferramentas (como Blogger, Medium, Tumblr) para criar blogues. Mas esses projetos sempre foram efêmeros e, mesmo enquanto eles duraram, pouco satisfatórios. Enfim eu tinha realizado um desejo infantil de ter um site, mas por algum motivo ainda não sentia que tinha um espaço para chamar de meu na net.
Não que isso importasse muito para o Jovem Eu Dos Mid 00s e 10s. A internet sofreu enormes mudanças durante essa época e blogues e sites pessoais tornaram-se meros artefatos do passado. A nova moda eram as mídias sociais. Ter um espaço seu, para publicar o que você quisesse, era mais fácil do que nunca. Orkut, Twitter, Facebook e derivados eram a nova forma de se expressar on-line, e eu entrei de cabeça neles.
Mas a insatisfação continuava. Eu ainda queria um espaço pra chamar de "meu" na internet. E por mais que tenha tido alguns bons momentos nas redes sociais (saudades, Twitter dos early 10s 💔), aqueles não eram realmente "meus" espaços, e sim de grandes corporações. Algo que eu não tinha plena consciência no início, mas hoje é absurdamente óbvio para todos.
Mas o que me impedia de enfim realizar meu desejo infantil? Pelo menos desde os 20 anos eu já tinha o conhecimento técnico necessário para hospedar meu próprio site do jeitinho que quisesse, e antes disso até os meios financeiros. O problema estava mais na minha cabeça que em qualquer outro lugar. Sempre que começava um projeto de site, acabava criando algo artificial, meio que performático. Eu não estava escrevendo para mim, e sim para uma audiência que só existia em minha cabeça.
Agora, aos 32 anos, dos quais passei uns 25 na internet, decidi me auto dar a mim mesmo um presente de aniversário. Um espaço digital para chamar de meu. É só isso. Um lugar em que possa escrever, postar e publicar o que quiser quando quiser. Sem fórmula, sem um padrão, sem "linha editorial", sem se preocupar com uma audiência fictícia, sem cronograma.
Enfim, um blog.