Bibliotecas não são para todos

Apesar do meu choque inicial com coisas duvidosas no conteúdo programático, ainda tenho que estudar para o concurso para professor estadual. Então, após selecionar os tópicos que acho mais pertinentes estudar (ou que terei saco de estudar), comecei a pensar numa bibliografia de estudo.

Decidi que me focarei na Idade Contemporânea e História do Brasil. Para o primeiro tópico a quadrilogia de "eras" de Eric Hobsbawn (A Era das Revoluções, A Era do Capital, A Era dos Impérios e A Era dos Extremos) fazem um bom panorama e são bem escritos. A historiografia marxista é um bônus. Já para a História do Brasil, pretendo ler Brasil: Uma Biografia, que além de parecer ter uma historiografia bem atual foi escrito por uma de minhas professoras da faculdade (Heloisa Starling). (não nego nem confirmo se ela era uma das minhas professoras favoritas)

Uma das razões por eu ter escolhido esses livros é que eles são bem populares (bem, para livros acadêmicos de História), então seria teoricamente fácil encontrá-los em bibliotecas públicas. Apesar de ser trivial encontrá-los na internet, queria as versões físicas. Mas livro é caro e o dinheiro é curto, então as bibliotecas vêm ao resgate.

Plano perfeito. Só faltou uma peça crucial: a biblioteca.

Aqui na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o melhor lugar para encontrar encontrar livros de História para empréstimo domiciliar, incluindo esses e muitos outros, é nas bibliotecas da UFMG, especialmente a Biblioteca da FAFICH. Uma rápida olhada no Sistema de Bibliotecas da UFMG confirma que há várias cópias disponíveis para os cinco livros que selecionei. Na verdade, pela UFMG nem precisaria me preocupar em selecionar livros relativamente populares, poderia entrar de cabeça em bibliografias mais obscuras e livros em outras línguas sem dó. Só há um problema: apenas alunos e funcionários da instituição podem fazer o empréstimo domiciliar! Desde que me formei ano passado não tenho mais acesso a esse serviço. Posso utilizar as bibliotecas, mas não levar os livros pra casa.

Com as bibliotecas universitárias fora de questão, pesquisei as bibliotecas públicas perto de mim. Quando vi que basicamente só tinha duas opções viáveis para mim - a Biblioteca Municipal de Contagem e a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais - bateu um pequeno desespero. No acervo da de Contagem, a mais próxima de mim, nenhum dos livros que eu queria estava disponível. Só me restou a Estadual de Minas Gerais.

Achei os livros que queria no acervo da Biblioteca Estadual. Uhul! Era só me cadastrar nela e fazer o empréstimo. Fácil, né?

Exceto que essa biblioteca fica na Praça da Liberdade, em plena Savassi, um dos bairros mais nobres de Belo Horizonte. Me deslocar de Contagem para BH é meio chatinho, e especificamente para a Savassi quase uma viagem. Como trabalho de segunda a sexta, teria que ir num sábado ou feriado, ou passar lá depois do trabalho.

Exceto que a biblioteca só funciona de segunda à sexta, e das 08 às 18. "Talvez dê para eu ir bem cedinho", eu pensei. Usando um Uber em vez do transporte público seria mais rápido, daria para ir lá rapidinho, pegar os livros e ir pro trampo sem me atrasar - eu só pego no batente às 11 horas.

Exceto que o horário para empréstimos é ainda mais reduzido, funcionando apenas entre as 10 e 16. Eu teria que me atrasar pro trabalho. E sobre pegar um Uber? A viagem me custaria mais de 30 reais. Somando ida e volta, e considerando que teria que repetir a viagem para devolver os livros em duas semanas, gastaria em torno de 100 reais + desconto do salário para ter o privilégio de usar um serviço público gratuito. É literalmente mais barato comprar os livros que quero pela internet.

Quem quiser usar uma biblioteca na RMBH tem que ou estar numa universidade, ou morar perto do centro, ou não ter que trabalhar, ou ter dinheiro de sobra. Preferencialmente todas as opções anteriores.

Bibliotecas não são para todos.